Títulos incentivados responderam por 45% do total emitido em debêntures; valor levantado via notas comerciais quase dobrou frente a 2024
As empresas brasileiras levantaram o volume recorde de R$ 152,3 bilhões no primeiro trimestre do ano, maior patamar para o período da série histórica da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), iniciada em 2012. A maior parte, R$ 142,6 bilhões, foi captada via instrumentos de renda fixa, principalmente debêntures, notas comerciais e fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs).
Em debêntures, o volume chegou a R$ 103 bilhões, patamar também inédito para um primeiro trimestre, sendo que as incentivadas, que dão isenção de Imposto de Renda (IR) a pessoas físicas e são destinadas a financiar projetos de infraestrutura, representaram 45%, ou R$ 46 bilhões, outro recorde. O maior peso do segmento, que se caracteriza por ter prazos mais longos do que as debêntures corporativas, elevou a média a 10,2 anos, frente aos 6,96 anos do mesmo período do ano passado.
César Mindof, diretor da Anbima, destacou que, tradicionalmente, o início do ano é mais fraco em emissões, mas 2025 já começou forte. “Terminamos o ano passado com força e seguimos fortes.” Segundo ele, as debêntures se consolidaram como instrumento importante de captação, ao mesmo tempo em que as notas comerciais ganharam relevância, com um total R$ 6,78 bilhões, alta de 98,5% frente ao mesmo período de 2024. O volume médio por operação subiu 24% e chegou a R$ 211,9 milhões, enquanto o das debêntures chegou a R$ 818,1 milhões.
“As notas comerciais são flexíveis, rápidas e mais democráticas, diferentes tipos de emissores podem acessar”, afirmou Mindof. De acordo com Guilherme Maranhão, presidente do Fórum de Estruturação de Mercado de Capitais da Anbima, o crescimento da liquidez desses papéis no mercado secundário contribuiu para o aumento na procura. “As notas comerciais devem crescer bastante como instrumento neste ano.”
Já no mercado externo, a janela favorável no primeiro trimestre levou a captação ao maior volume para o período desde 2014. Foi um total de US$ 11,1 bilhões em 12 operações, sendo mais da metade, US$ 6,4 bilhões, de companhias, US$ 2,3 bilhões de instituições financeiras, e US$ 2,5 bilhões em emissões soberanas. No entanto, para Maranhão, o bom resultado não deve se repetir no segundo trimestre, diante da turbulência causada pelo “tarifaço” adotado pelo governo Donald Trump, dos Estados Unidos. Segundo ele, houve uma freada brusca nas últimas duas semanas e até mesmo as empresas americanas que têm grau de investimento recorreram muito pouco ao mercado de capitais.
“Há ruído de recessão e forte movimento de venda de títulos do Tesouro americano”, ponderou. “Até que o cenário se acalme, não me parece que haverá novas emissões no exterior, ainda mais com o mercado doméstico apresentando boa demanda. Apesar dos juros altos, nossos prêmios de risco estão na mínima histórica.” De acordo com Maranhão, ainda não se vê impacto da guerra comercial no mercado local de crédito privado. Mindof destacou que os fundos da classe voltaram a captar neste início de ano, o que eleva a demanda por títulos. “Os fundos vão continuar precisando alocar esse capital que vêm recebendo e o mercado continuará robusto e funcional.” No entanto, diante dos recordes de 2024, ele afirma que não é possível dizer se o ritmo será mantido.
Pelos números da entidade, os fundos de investimento representaram 34,2% do volume das emissões subscrito no primeiro trimestre e os participantes ligados à operação ficaram com 57,3%. Maranhão explica que isso demonstra que as instituições financeiras estão entrando com garantia firme das captações e depois escoando os títulos no mercado secundário. “Os números podem dar a impressão de que as ofertas acabam no balanço dos bancos, mas vemos o secundário cada vez mais ativo. O volume de debêntures negociado no secundário cresceu 34,2% no primeiro trimestre e atingiu o patamar recorde de R$ 196,6 bilhões. “As pessoas físicas têm aumentado a participação no secundário também”, disse.
Outro instrumento que chamou a atenção nos primeiros três meses do ano foram as debêntures de securitização, com R$ 7,6 bilhões emitidos. São títulos usados para captação de funding por parte de, por exemplo, fintechs, com base em recebíveis securitizados. Outro instrumento de captação com base em recebíveis são os FIDCs, mas Mindof explicou que, neste caso, é um veículo mais usados para valores menores.
Conforme a Anbima, os fundos imobiliários (FIIs) tiveram queda no volume de captação de R$ 13,43 bilhões, em 87 emissões de janeiro a março de 2024, para R$ 6,88 bilhões, em 52 ofertas neste ano. “Com os juros altos, a indústria tem menos oportunidades para levantar recursos”, afirmou Maranhão. Já os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros) ficaram estáveis em 11 operações e o volume captado cresceu de R$ 430 milhões para R$ 1,62 bilhão. Para o representante da Anbima, esses fundos “passaram pelas dores do crescimento em 2024, mas têm tendência de recuperação neste ano”.



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