Aspectos macro podem contribuir para o avanço do instrumento; embedded finance e universos imobiliário, de precatórios e financiamentos são promissores
Mais um ano se apresenta promissor para os FIDCs, a exemplo do que se viu em 2024. O cenário macroeconômico pode contribuir para o avanço, sobretudo num cenário econômico em que os grandes bancos apertam os cintos para emprestar recursos, seja para pessoa jurídica ou física. Ademais, houve amadurecimento de estruturação da ferramenta entre as gestoras.
Na lista de segmentos promissores para o instrumento em 2025 estão o imobiliário, de capital de giro para companhias de todos os portes, para cartão de crédito, compra de precatórios e de ações trabalhistas, operações voltadas a pessoa física que financiam veículos, viagens e turismo – e inclusive as que fornecem empréstimos de valores baixos, que podem somar R$ 2 mil. São negócios que já integram as carteiras de FIDCs administrados por grandes gestoras. Embedded finance ganhou destaque entre os gestores ouvidos pela Capital Aberto.
Até novembro de 2024, o patrimônio líquido (PL) dos FIDCs somou perto de R$ 607 bilhões – 37% mais que o retrato de dezembro do ano imediatamente anterior. Em comparação ao início da década, ou seja, em apenas quatro anos, o volume triplicou. Os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) evidenciam, ainda, captação líquida de R$ 116 bilhões em onze meses do ano passado, quase três vezes mais que a registrada em 2023.
A busca por crédito em distintas fontes é natural num país com o contexto brasileiro, e explica parte do avanço recente (ver quadro). Mas não é só isso. Para alguns gestores, um natural amadurecimento do uso (estruturação e gestão) dos FIDCs no país contribuiu significativamente para sua ‘esticada’. Os fundos conquistaram a confiança de investidores e de tomadores de crédito.
“Há complexidade nesse produto. E, tal como uma empresa – vamos considerar uma companhia bem gerenciada e com riscos devidamente mensurados –, leva no mínimo uns dez anos para o amadurecimento, com toda a indústria e prestadores de serviço aprendendo para posteriormente ganhar ritmo”, . Ademais, contribuiu o volume de gestoras que atua no país e o próprio desenvolvimento do mercado de capitais. Comenta Leonardo Calixto REAG Asset
Dependendo de como se desenrole o cenário macroeconômico, os FIDCs podem avançar mais ou pouco menos em comparação a 2024 – ainda assim, o ano promete ser bom. No pior dos cenários, com a inflação acelerando com pressão do dólar e as taxas de juros ainda mais altas, o mercado deverá “tirar o pé”. “A gente sabe que alguns gestores de patrimônio têm muitos clientes. E num cenário desses, eles investem fora [do país] para buscar algum porto seguro. Isso poderia prejudicar o crescimento dos FIDCs nuns 15% ou 20%”, comenta Calixto.
“Mas 2024 não será o único ano bom para esses fundos. Eu ainda acho que o cenário base é o FIDC continuar crescendo no ritmo de 2024. Acredito que a coisa não deve degringolar a ponto de os FIDCs perderem apelo dentro das estratégias de alocação e para os originadores”, continua o gestor da REAG. O braço de crédito estruturado da gestora administra pouco mais de R$ 15 bilhões distribuídos em 48 FIDCs. , casa com cerca de R$ 11 bilhões alocados em 126 fundos, não vê impacto negativo do cenário para os negócios nesse meio. Em sua leitura, para o desempenho desses fundos, “não importa o que vai acontecer com o Brasil” em 2025, já que a conjuntura não poderá alterar o que ele enxerga como uma mudança estrutural relacionada aos FIDCs. Comenta João Baptista Peixoto Neto, Ouro Preto Investimentos.
“O avanço do FIDC resulta de um processo de desbancarização. O mercado, realmente, está vindo para o mercado de capitais. Então, por exemplo, uma tendência grande agora é o que a gente chama de embedded finance, as finanças embutidas nas empresas”, disse. Não é uma estratégia nova. Mas vem crescendo muito entre companhias.
Num ano com alto patamar de taxa de juros, esses fundos são uma alternativa importante para companhias de todos os portes buscarem recursos. Para o investidor, por sua vez, o FIDC pode ser mais atraente pela forma como o produto é estruturado, com pulverização do risco, em comparação a outros produtos, como debêntures.
“Acredito que vá ocorrer uma explosão de FIDCs de embedded finance”, diz ainda Peixoto Neto, da Ouro Preto. Criar uma estrutura financeira vinculada ao seu negócio tradicional não é algo novo, mas agora é “tendência”, disse. O ifood, por exemplo, tem um FIDC que serve como fonte de crédito para restaurantes. “No futuro a empresa pode criar um fundo para emprestar para os próprios usuários”, continua o gestor. O Mercado Livre é outro exemplo. Cliente da companhia, o próprio gestor conta que recebeu um aviso de crédito pré-aprovado, num valor próximo a R$ 30 mil, oferecido pela plataforma recentemente.
Apesar do cenário de juros, dólar e inflação altos, a economia brasileira viverá seu “tradicional voo de galinha”, opina o gestor da Ouro Preto: vai crescer, porque o governo está gastando dinheiro, contudo às custas do desequilíbrio fiscal. “Essa conta virá lá na frente”, acrescenta. Em sua visão, os juros acabarão cedendo após a mudança de membros da equipe do Comitê de Política Monetária (Copom), o que será benéfico para a economia. “Essa taxa de juros para um país como o Brasil é um absurdo”, segue.
O produto, contudo, tem seus desafios visto que a gestão é complexa. Um deles é lidar com a inadimplência, outro, as fraudes. O segundo fator é mais “fácil” de lidar, pois há diversos mecanismos de apoio. Lidar com a inadimplência, contudo, é mais problemático, comenta. Mas a própria estrutura do instrumento acaba protegendo investidores – com a existência de tipos de cotas diferentes – e o grau de maturidade do mercado para lidar com a ferramenta contribui, dizem as fontes.
Calixto, da Reag, comenta, ainda, que nas operações de empréstimo de valores mais baixos (R$ 2 mil), há um volume significativo de inadimplência. Mas o pulo do gato está justamente na dinâmica da relação com o cliente: o ganho vem dos tomadores que pagam com atraso em um cenário de juros altos como o atual. “Parece um pouco injusto dito assim, mas várias pessoas não teriam acesso fácil ao crédito”, continua.
“O canal também deve ter maior demanda de pequenas e médias companhias. FIDCs são alternativa para financiar a cadeia de fornecedores ou para ela própria se financiar no mercado, afirma Klever Lairana, , presidente da Associação Nacional dos Participantes em Fundos de Investimento em Direitos Creditórios Multicedentes e Multissacados.
“O reconhecimento desse produto pelos tomadores é coisa muito recente. Começaram a perceber que há um mecanismo na mão no mercado de dívida que pode ajudá-lo com certa facilidade”, disse Lairana. A Anfidc representa “uma fração” do mercado de FIDCs, continua o dirigente.
O universo da Anfidc gerou acesso a crédito para milhares de companhias, muitas delas de porte médio e pequeno. Somente esses agentes ampliaram oferta de recursos em 22% na comparação entre o mesmo período (jan-out) de 2024 x 2023. O patrimônio líquido alcançava R$ 54 bilhões até outubro do ano passado. “Eu acho que o movimento dos FIDCs continuará expandindo nos próximos anos. É um crescimento natural em um país com concentração de crédito em poucos bancos”, finaliza Lairana.
Fonte: https://capitalaberto.com.br/gestao/cenario-para-fidcs-sugere-2025-positivo-mas-com-desafios/