O agronegócio é um dos setores mais dinâmicos e estratégicos da economia brasileira. Além de representar cerca de 25% do PIB nacional e quase 50% das exportações, ele movimenta anualmente mais de R$ 2 trilhões. No entanto, seu crescimento sustentável depende da disponibilidade de crédito e de instrumentos financeiros adequados às suas necessidades.
Nos últimos anos, o mercado de capitais tem ganhado protagonismo como fonte alternativa de financiamento para empresas do setor agro. Entre dezembro de 2022 e dezembro de 2024, o volume financeiro do agronegócio dentro do mercado de capitais cresceu 36%, passando de R$ 397 bilhões para R$ 540 bilhões.
Esse crescimento reflete um movimento irreversível: o agronegócio brasileiro está cada vez mais integrado ao mercado de capitais. Essa transição oferece vantagens significativas, como maior diversificação das fontes de financiamento, redução da dependência de crédito bancário e ampliação da liquidez para as empresas do setor.
Agronegócio com crédito limitado
Historicamente, o financiamento do agronegócio no Brasil foi sustentado pelo crédito rural subsidiado pelo governo, pelos bancos tradicionais e pelos fornecedores de insumos agrícolas, que concedem prazos mais longos para pagamento. Segundo dados da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), 40% das empresas agro financiam suas operações diretamente com fornecedores. Outras modalidades incluem:
- Barter: Pagamento pelo insumo no pós-colheita, com liquidação após a safra.
- Crédito bancário: 13% recorrem a bancos privados e 7% a bancos públicos.
- Securitização: Apenas 6% acessam CRAs, 3% recorrem aos FIDCs, e 1% ao CDCA (Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio).
Embora essas formas de financiamento sejam tradicionais, elas apresentam desafios:
- Crédito bancário restrito: Bancos costumam exigir garantias elevadas e impõem limites ao crédito concedido.
- Oscilação das taxas de juros: A taxa Selic impacta diretamente os custos dos financiamentos.
- Redução dos subsídios governamentais: O volume de crédito rural disponível pelo Plano Safra varia a cada ciclo, trazendo incertezas para as empresas agro.
Diante dessas limitações, o mercado de capitais desponta como uma alternativa eficiente para viabilizar o crescimento e a modernização do setor.

Agro mais competitivo com o mercado de capitais
O mercado de capitais não resume ao FIAGRO e CRA, oferece outros instrumentos financeiros que podem atender às necessidades do agronegócio com mais flexibilidade e eficiência do que o crédito tradicional.
Os FIDCs do agronegócio permitem que empresas do setor financiem suas operações através da securitização de recebíveis, transformando seus direitos creditórios (como CPRs e duplicatas) em ativos negociáveis. Entre suas vantagens estão:
- Captação de recursos sem aumentar o endividamento: A securitização não aparece no balanço como dívida, preservando o índice de alavancagem da empresa.
- Liquidez ampliada: O acesso a investidores institucionais e profissionais permite a antecipação de recebíveis.
- Diversificação de riscos: A carteira de direitos creditórios pode conter ativos de diferentes segmentos do agronegócio, reduzindo a exposição a um único setor.
O futuro do crédito para o agronegócio
O mercado de capitais não é apenas uma alternativa de financiamento para o agronegócio; ele é uma ferramenta crucial para desbloquear o potencial de eficiência e inovação no setor. Além de possibilitar o acesso ampliado a capital em grande escala, a presença de empresas agro no mercado de capitais melhora sua imagem corporativa e credibilidade no cenário global.
Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) se destacam neste contexto. Esses fundos oferecem uma diversificação de riscos, pois sua carteira pode incluir diferentes tipos de direitos creditórios vinculados ao agronegócio, como CPRs e duplicatas. Além disso, as cotas dos FIDCs podem ser negociadas no mercado secundário, proporcionando maior liquidez para os investidores.
Com o fortalecimento dessa integração entre o agronegócio e o mercado de capitais, o Brasil tem a oportunidade de consolidar sua posição como líder global no setor, impulsionando sua competitividade, eficiência e inovação.
Autor: Volnei Eyng
Fundador e CEO da Multiplike, uma gestora de recursos com 25 anos de história e mais de 30 bilhões de crédito cedido.
Sócio benemérito da ABRAFESC;
Graduado em Administração e Economia;
MBA na HSM Management em Gestão de Negócios;
MBA em Macroeconomia.
